quarta-feira, 23 de março de 2011

Entre filhos e ídolos

A história

Na última semana estudamos o final do capítulo 29 de Gênesis e avançamos 26 versículos no capítulo 30. A temática da providência se unirá a outra que caminhará conosco doravante: idolatria no coração. Repare que tem que ser assim: Moisés está caminhando com o povo pelo deserto e lhes contando a história de seus pais, na fé e na raça. Eles não seriam somente tentados à idolatria pelos deuses exteriores com os quais estavam acostumados no Egito, mas também por todos aqueles menores que poderiam carregar tanto nos bolsos, quanto no coração!

Jacó se via dividido, não somente por estar casado (1 Co 7.34) mas principalmente por estar casado com duas irmãs que eram rivais! O engano de seu pai fez com que estas duas irmãs acabassem por ter a Jacó como marido e a luta por seu amor e atenção, pela primazia no lar e a constante disputa na concepção dos filhos deu àquele lar inúmeros exemplos de como nossos sentimentos idólatras podem nos cegar frente às maiores bençãos... Raquel e Lia, esposas de Jacó, por causa de seus desejos corrompidos, tornaram a grande bênção da maternidade num joguete para concentrar em si o amor do marido.

Os filhos de Lia (primeira fase)

Nesta primeira fase, Lia concebeu e deu à luz 4 filhos: Rúbens (que significa: Ele viu minha tristeza), Simeão (aquele que ouve), Levi (Unido) e Judá (Ele será louvado). Embora os significados dos nomes fossem redimidos pelo Senhor, sua motivação foi a mais egoísta possível. Por exemplo, Levi, que poderia significar que Deus estivesse mais unidos à família, ou coisa semelhante, na verdade dizia respeito ao desejo de Lia de ter a Jacó unido mais à ela que à irmã (vs.34). É somente quando concebe a Judá que ela se lembra do Senhor. Curiosamente é do tronco de Judá que sairá o Messias!

Os filhos de Bila

Vendo Raquel que os anos passavam e seu ventre não frutificava, ofereceu Bila, sua serva para que através dela tivesse filhos. De Bila lhe nasceram então: Dã (Juiz) e Naftali (Luta). Novamente os nomes apontavam para a rivalidade entre as irmãs. Mais um exemplo disso é Naftali, pois com grandes lutas Raquel vinha competindo com a irmã (vs.8).

Os filhos de Zilpa

Para não ficar para trás, Lia também oferece sua serva, Zilpa, e dela lhe nascem: Gade (Boa sorte!) e Aser (Feliz). Nem é preciso dizer que os nomes continuam apontando para a rivalidade crescente entre as irmãs, não é?

Os filhos de Lia (segunda fase)

Esta segunda fase aconteceu graças a um terrível trato entre as irmãs rivais. Rúben, filho mais velho de Lia voltava do campo com mandrágoras, planta usada, entre outras coisas como um afrodisíaco, quando Raquel lha pede. Lia se indigna, mas cede ao torpe trato de alugar o marido pela planta em troca de uma noite de amores. Lia aceita de desta situação e volta a engravidar, dando à luz: Issacar (recompensa) e posteriormente Zebulom (honra).

O filho de Raquel

Finalmente Raquel concebe e dá à luz José (possa ele acrescentar).

Rivalidade idólatra

Podemos achar, enganados, que esta história fala de amor, do amor das esposas pelo marido... ou a busca dele! Mas na verdade, corrigindo a perspectiva, de fato fala de amor, o egoísta amor a si mesmo que estas mulheres demonstraram.
Raquel, antes de oferecer sua serva a Jacó, acusou-lhe de não lhe dar filhos! Sua cegueira era tamanha que entendia que quem privava seus ventre de filhos era o marido. Seu clamor é claramente idólatra; veja no cap.30, vs 1: "Dá-me filhos, senão morrerei".

Desejar ter filhos não é algo mau em si mesmo. É um bom desejo. Mas todo desejo, quando aumenta demais à ponto de controlar nossa vida, passa a ocupar o lugar de Deus. Este controle pertence a Deus, e quando um desejo usurpa este lugar, ele é um ídolo! Raquel acreditava tanto que ela precisava de um filho, que, como seu deus, ele entendeu corretamente que sem ele não haveria vida, e à sua ausência, era preferível a morte...

O ídolo, no coração, tem algumas características que devem ser ressaltadas e que são facilmente vistas nesta narrativa. Primeiro que por definição, todo ídolo promete e não cumpre, logo, ídolos produzem um altíssimo grau de insatisfação. Observe que tanto Raquel quando Lia, e esta última mesmo tendo filhos, não estavam satisfeitas; o que dava sempre prosseguimento à constante rivalidade. A insatisfação idólatra, crescente e egoísta é lamentavelmente vista em todo a sua clareza quando Raquel finalmente concebe. No lugar de uma profunda alegria pela benção de finalmente provar as delícias da maternidade, Raquel olha para seu bebê e só consegue pensar em que "dê-me o Senhor ainda outro filhos"! Apesar de temporariamente alegre, o nascimento de seu filho não satisfez seu coração, que se revelou através da infame afirmação de seu desejo por mais um filho.

Lia também dá mostra de seus desejo desordenados. Quando lhe é oferecido o aluguel do proprio marido, fica claro que Lia tinha mais que olhos "baços", tinha cegueira espiritual: O desejo de ser aceita e ter o amor do marido a cegou. Seu desejo cresceu tanto que ela estava pronta para pecar para obter o que tanto queria: o amor e a atenção do marido só para si! Lia estava irada (vida palesta sobre ira, pois uma coisa que sabemos sobre ira é que, se você está, ou disposta a pecar para obter, ou peca quando não obtem, então temos um sinal de ira presente).

A ironia desta história vai terminar alguns anos depois, quando o Senhor concede à Raquel outra concepção. Mas quando obteve de Deus o que houvera pedido, morria durante o parto. Ela inicialmente nomeou seu filho de Benoni (fiho da minha tristeza). O que ela havia adora e pensado que tratia benção, acabou por causar-lhe a morte! Os ídolos são assim: prometem vida, entregam morte... O irônico é que a mulher que disse "dá-me filhos senão morro", morreu tendo um filho!

Reflexões

De que precisamos tanto nesta vida a ponto de entender nossa existência à partir dela? O que eu preciso ter para que minha vida tenha significado? O que precisamos para ser feliz? Qualquer resposta a estas perguntas que vão além de Deus apontarão para aquilo que tem servido para mim como um deus...

Para vasculhar o coração, é bom perguntar sobre o que nos dizemos "dá-nos isso ou morreremos"?

Por fim, vasculhe também o que você estaria disposto a pecar para obter?

O que nos governa é nosso deus... Se nossos desejos crescerem ao ponto do governo, então os ídolos estão se instalando... Deus tenha misericórdia de nós e ouça nossa oração: Não nos deixe cair em tentação, mas livra-nos do mal!

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