quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Ainda não Chegou o Fim

Ainda não Chegou o Fim Há quatro anos atrás quando nosso primeiro filho se foi, estava em minha casa e li um texto da bíblia que dizia: “Em lugar da vossa vergonha tereis dupla honra; e em lugar da afronta exultareis na vossa parte; e terão perpétua alegria”. Um ano e meio depois, nasceu nosso segundo e amado filho, Danilo. Três anos depois decidimos engravidar novamente. A grande notícia: eram gêmeas, duas meninas, duas princesas. Pronto! A Palavra se cumpriu. Minha melhor gestação. Nenhuma intercorrência. Sem enjoos, sem inchaços, infecções, anemias, nada! Tudo estava bem. Escolhemos os nomes, fizemos os planos, sonhamos... E como sonhamos! Nossas vidas seriam uma loucura deliciosa, cheia de descobertas e muito amor. Para garantir uma gravidez saudável fizemos uma cerclagem e dois pontinhos no útero me deram um descanso sobre um possível parto prematuro. Sábado, 4 (quatro) de Janeiro, uma dorzinha chata me incomodava. Poucas horas depois Fernanda pôs sua carinha pra fora e com pouco mais de oitocentos gramas conheceu o mundo. Cinco minutos passados, Elisa, sua irmã, também chegou. Incertezas, lágrimas, dores, tumulto, correria. O que seria de nós? Sete dias depois, Elisa, tão pequena e frágil, foi para pertinho de seu criador; daquele que desde antes da fundação deste mundo já havia escrito sua curta história por aqui. Fernanda continuou lutando. Passou, literalmente, várias vezes pelo “vale da sombra da morte” e não temeu. Venceu infecções, pneumonias, hemorragias, anemias. Com ela, cada dia era uma surpresa. Ora saíamos chorando de alegria, ora era a tristeza e o cansaço que tomavam conta de nossos corações. Quantas vezes o “bendito” oxímetro me desesperava! Cada dia um passo... Cada dia uma linha escrita... Cada dia um recomeço. Soubemos que nossa menina não enxergaria. Que triste. Sim! E dai? Bora pra frente. Saímos da incubadora, fomos para um super berço aquecido, vestimos o primeiro macacão, chupamos a primeira chupeta e até experimentamos o docinho da maçã. Mudamos de casa, conhecemos gente nova e recebemos visitas. É certo que muitas visitas ficaram apenas marcadas no papel fixadas no mural de avisos de casa. Nosso coração, cheio de esperança e alegria, não percebeu que seus dias por aqui chegavam ao fim. Com vistas em dias melhores fomos para longe. Por lá, não achamos o cuidado, o carinho, o amor e a dedicação que há sete meses estávamos acostumadas. E assim, da mesma forma rápida que nossa filha chegou, ela se foi. Passou, talvez, suas piores horas. Felipe, meu amado e dedicado esposo, passou o dia acompanhando tudo e eu, da sala de espera, orava incessantemente. Minha menina, meu tesouro, minha pequena guerreira, esperou mamãe chegar para partir. Fiquei ao seu lado, passei a mão em seus cabelos e disse que a amava muito. E assim, ali, diante dos meus olhos, Fernanda descansou. Chorei muito! E choro enquanto escrevo. Lutamos tanto! Pra que? Eu explico: para a glória de Deus, para nosso fortalecimento, nosso aprendizado, nossa união. Fernanda foi muito amada. Era minha filha porque eu a gerei, porém, de todos vocês porque a amaram. Se algo aconteceu de errado, se houveram culpados, Deus, com sua mão de justiça irá cobrar. Nisto eu descanso e confio. Certa feita uma pessoa me perguntou por que eu falava tudo, contava tudo... Por que eu não ficava mais reservada? Disse com toda certeza que Fernanda já não era mais nossa apenas. Nesses meses foram inúmeras mensagens de gente conhecida e de pessoas que nunca vi, nunca ouvi falar, mas que estiveram ao nosso lado em oração. Gente do Brasil todo! Falavam de Fernanda como se fosse de suas famílias, como se a conhecessem de pertinho. Foram abraços, lágrimas, ajuda no combustível para as visitas, compras do mês, feira, bolos pra adoçar nossas tardes, limpeza na nossa casa, um dinheirinho para um lanche no hospital, cuidados com o Danilo. A melhor palavra pra isso? Como poderia descrever? ACONCHEGO! Sentimo-nos aconchegados, acarinhados, cobertos de amor. Era tão fácil cantar: “Somos corpo, ajustados, totalmente ligados”... Agora, realmente sabemos o que isso significa. Doeu em nós... Doeu em todo o corpo. Peço licença a todos para citar e agradecer nossa amada amiga Ione que cuidou de Fernanda como se fosse dela; cuidou de nós também todas as vezes que atendeu telefonemas, nos trouxe notícias e nos amou até o fim. Nossos laços serão eternos. Estaremos ligados para sempre. Então, a bíblia mentiu? E a “tal” dupla honra? E a perpétua alegria? Deus, em Sua palavra, me prometeu dupla honra e Ele me deu Fernanda e Elisa. Apenas parece que foi por pouco tempo. Viverei com elas por toda a eternidade essa é a “tal” perpétua alegria. E isto só é possível porque Cristo nos garantiu com a sua morte a vida eterna. Ainda não acabou! Minha esperança e indescritível certeza é que em breve nos reencontraremos. Juntas novamente! E não somente nós. Felipe, Davi e Danilo também. Nossa família estará completa. E o futuro? Agora seremos só nós três? Essa foi a pergunta feita pelo Danilo a semana toda. E a resposta que demos a ele, damos a todos: assim como todas as gestações, assim como todas as coisas, assim como toda a nossa vida, Deus está no controle e a Ele pertence o amanhã. Ele conhece o nosso coração e sabe dos nossos desejos, mas acima disso está a Sua Soberana vontade que é boa, perfeita e agradável. Termino coração transbordando de gratidão e mesmo que escrevesse páginas e páginas, não conseguiria expressar meu amor por vocês. Obrigada! Obrigada! Obrigada! Vocês estarão para sempre em nossos pensamentos e em nossas orações. Sintam-se abraçados! Nossa família, nosso conselho, nossos pastores (que estiveram sempre ao nosso lado), nossos amigos, nosso irmãos. Nossos dias de luto chegam hoje ao fim. Pensemos nas coisas lá do alto. Vivamos para a glória de Deus. Amém. Marcele Quirino.