O texto que estudamos nas últimas duas quartas-feiras compreende a história que imediatamente antecede e sucede o famoso evento ocorrido no vau de Jaboque: a luta de Jacó com Deus. Relembremos a tão rica história:
Chamado para retornar à sua terra, Jacó e sua família parte das bandas de Labão rumo às terras em que moravam seus pais e irmão. Este fato trouxe desconforto mui grande ao patriarca, pois teria que se encontrar novamente com aquele que o jurou de morte, Esaú, de quem havia roubado a bênção paterna. Lembro-nos que fora diante das ameaças de morte que a Mãe encomendou a viagem que Jacó empreendeu rumo a Parã.
Jacó vem sendo alvo da atuação de Deus, gozando de Seus cuidados e Sua proteção. Enquanto a história de desenrola, Jacó é transformado pelo Temor de Isaque! Mas isto ainda não está claro, e não se tem evidências concretas destas mudanças. Deus proporcionará os elementos que fundamentarão a afirmação de que Jacó mudou, inclusive, incluindo a mudança de Seu nome, de usurpador, para príncipe de Deus!
Jacó esboça seus temores de reencontrar com Esaú e prepara o encontro enviando uma carreira de presentes para seu irmão. Como um marido quando quer amolecer o coração da esposa, espalha por seu caminho os presente e agrados até que o encontro aconteça. Jacó enviou vários pequenos rebanhos diferenciados e instruiu: Quando Esaú perguntar, diga que tudo o que vê é dele, que é presente meu, e que venho pelo caminho encontrar-me com ele…
Jacó pensava poder comprar o perdão do irmão com presentes. Favor se recebe, não se paga por ele, mas Jacó planeja mesmo assim, movido por seu temor de homens. O temor de Homens (Esaú) nos foi revelado pela oração que ele mesmo. Tal como as nossas orações, ela não é pura, mas misturada de piedade com temores humanos… É bom que se diga que esta é a primeira oração registrada nas Escrituras, e é justamente Jacó quem a faz!
No meio do caminho Deus resolve revelar a Jacó e a nós o que vem operando internamente, mas que ainda não se tem evidência externa indubitável. A transformação progressiva do coração é evidenciada externamente por um novo nome. Jacó entra no vau de Jaboque, mas é Israel quem sai dali!
Jacó enfrenta um homem até ao amanhecer. Deus lhe aparece teofanicamente. Este jogo de palavras é importante ter em mente, pois o lugar batizado por Jacó será Peniel. "Panin", em hebraico significa face. Peniel significa “face de Deus”; nome dado inspirado na ocasião em que, ignorante ou não, Jacó vê a face de Deus e espantosa e inexplicavelmente sai vivo! Teofania carrega em si a mesma ideia: Deus se mostrar visivelmente. Este “homem”, teofania divina (Deus assume temporariamente forma visível), ao amanhecer, após longo embate, simplesmente toca na articulação da coxa de Jacó, debilitando-0 grandemente, mas além do esperado Jacó insiste que não deixará ir o “homem” até que lhe conceda sua bênção. A perseverança de Jacó é admirável!
Deus lhe pergunta do seu nome. Naquele momento, quase que podemos ver Jacó abaixar a cabeça envergonhado de ter que enfrentar sua identidade; identidade esta que ele estava disposto a abandonar, pois não mais queria ser “Jacó”, o enganador. De fato, Deus lhe muda o nome inspirado pelos últimos acontecimentos. Israel carrega em si, em sua raiz, a palavra “Sara”, que pode ser traduzida por “ princesa”, tanto quanto por lutadora.
Após este encontro, finalmente Jacó encontra-se com Esaú, já não mais como Jacó, mas como Israel. A diferença está na postura. Jacó enviou presentes para comprar o perdão. No meio do caminho ele descobre uma coisa chamada GRAÇA. Nas palavras de Jacó, vamos por hora definir assim: Graça é quando “vemos a face de Deus e vivemos…”. Israel é consciente disso e apresenta-se humilde diante de Esaú, e o ritual de vassalo quando encontra seu senhor é executado no começo do capítulo 33. Esta é a postura do arrependido que se encontra diante de Deus: desde de longe vem gritando sua culpa, admitindo que está errado! Mas ao se aproximar de Esaú, Jacó é surpreendido pelo perdão!!!
Agora Jacó insiste que Esaú lhe aceite os presente ofertados. O objetivo agora mudou: não mais se prestam a “comprar” o perdão, mas em expressar sua alegria de ter sido perdoado. Anteriormente Jacó, movido pelo temor de homens – que gera idolatria – ofereceu sacrifício de pecado; mas agora, perdoado, ele quer oferecer sacrifício de louvor! É bom que se observe que a “teoreferencia” é explicitada por Jacó, isto é, sua atitude tem “referência” em Deus, pois ele compara o perdão que Esaú lhe concede com o perdão que recebeu de Deus: “Vi sua face como a de Deus”! Jacó viu no olhar de Esaú a mesma expressão graciosamente perdoadora que viu em Peniel – Jacó estava sendo tratado diferentemente do que merecia.
Este é um texto que fala sobre GRAÇA. A luta de Jacó serve como uma “dobradiça” que une eventos parecidos, porém diferentes entre si. Antes temos uma Jacó que precisa ser perdoado, mas acredita que possa comprar este perdão. Após a luta, ele é um homem já perdoado por Deus, que sem entender recebe a graça e folga nela! Não quer mais comprar perdão porque entendeu que perdão não se comprar, você enfrenta quem precisa lhe perdoar e espera pela graça!
Lições que aprendemos – um resumo
Pedir perdão é apresentar-se em humildade. Lembre-se: se você estivesse certo, não pediria perdão, portanto, não apresente justificativas… apresente-se ao justificador!
Aprendemos também que os temores que temos são melhores enfrentados em oração. Nossas maiores batalhas serão travadas na arena do coração, e a arma a ser usada é a oração!
Perseverar é mais que pedir: é perseverar. Uma das coisas que aprendi, logo no começo da carreira teológica, é que só se persevera perseverando… Jacó foi além, até onde não se esperava ir… a acomodação medíocre e pecaminosa é a razão de muitas pessoas não “lutarem” com Deus. Ele quer ver as mudanças e elas aparecerão quando perseverarmos!
Agora sabemos que Deus, quando opera mudanças internas, estas devem ter expressão visível externamente. Deus muda o coração e as atitudes. Um sem o outro não existe: atitude sem “coração” é farisaísmo. Coração sem atitude é emocionalismo…
Aprendemos também que o perdão de Deus deve ser gozado: e este gozo nos leva a perdoar e ser perdoado pelos homens também! O perdão acaba com a guerra, traz paz, reata os laços, transforma situações!
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